“Meu sonho é acordar num belo dia e não saber quem eu sou,
assim eu poderia ser quem eu quisesse.”
Essa fodástica epifania foi extraída do livro De Frente Para
o Sol, do psiquiatra americano Irvin Yalom.
Nem foi ele quem criou isso, mas se recordou de um amigo que
lhe disse isso e fez a citação sabiamente.
O livro fala sobre a morte e nossa relação com ela, mas é
sobre personalidade que quero falar, que criamos diariamente. Sim, nós a
criamos.
Nosso histórico tem grande influência no que somos hoje,
porém, ao tomar consciência de QUEM somos e O QUE somos, é uma opção permanecer
os mesmos.
O ser humano é um ser
necessariamente social - para ser, ele precisa coexistir com outros da mesma
espécie.
Tudo o que você possui, pensa, faz, fala, veste, fode, diz
quem você é. Reclamar que te chamam de ogro e continuar arrotando enquanto
come, é contraditório. Exemplo tosco, OK, mas serve para tudo o que dizem sobre
nós. Costumamos ficar infelizes sobre certas características que possuímos, mas
se você analisar como tais características foram se formando, verá que quem as
criou foi você.
Sentir que não é tratado como adulto pelos pais, a namorada
dizer que não se sente segura quanto ao relacionamento, não ser promovido no
emprego, são exemplos muito comuns que você já deve ter passado e, mesmo
considerando as variáveis que poderiam negar os fatos, você se incomodou.
Para mudar este quadro, você precisa avaliar alguns pontos
olhando de fora:
Quem é você? Bem humorado, irresponsável, culto, nerd,
fútil, fresco, ogro, otário, bonzinho?
Agora, olhando pra dentro:
Quem eu quero ser? Bem sucedido, informado, poliglota, malhado,
intenso, feliz?
Senhores, senhores (!), muito cuidado. Minhas palavras de
livro de auto-ajuda fazem muito sentido, certo? Creio que sim. Atingem a maior
parte das pessoas, que se identificam e vão no embalo da ideia. É assim que ficamos
cada vez mais distantes de nós mesmos: seguindo tendências sem pensar. O pior é
que ler essas coisas é algo atraente, tem uma cara de bote salva-vidas que não podemos
deixar passar. É uma maneira de nos sentirmos seguros e parte de algo, que seja
de um grupo de pessoas que sentem as mesmas coisas que nós. Na verdade, não menti
em momento algum, realmente quase todos nós passamos por isso e temos vontade
de ser pessoas melhores.
O perigo acontece quando chamamos nossas características de
defeitos, nossos costumes de obsoletos e nossos valores de imorais, só porque
alguém disse que é assim e pronto.
Temos infinitos meios de análise: os retiros, terapia, reflexão
constante, meditação, etc. A lista é enorme e cada um pode escolher com o que
se identifica mais, mas uma coisa é fato: relaxe um pouco com o que dizem e
busque aí dentro o que realmente te incomoda, o que você é capaz de mudar e o
que precisará se adaptar para continuar sendo. Não adianta ser alguém que você não
dá conta de sustentar por muito tempo.